quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mais tempo em sala de aula pode ''salvar'' ano escolar da criança, diz Haddad


Ministro da Educação e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, defendeu, em entrevista exclusiva ao UOL, o aumento dos dias letivos nas escolas


Fonte: UOL Educação
Karina Yamamoto, Editora do UOL Educação
Rafael Targino, em São Paulo

O ministro da Educação e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, defendeu, em entrevista exclusiva ao UOL, o aumento dos dias letivos nas escolas. Segundo ele, uma hora por dia ou dez dias por ano podem ser a “salvação” de um aluno.

Na mesma entrevista, Haddad afirmou também que votaria em Marta Suplicy (PT) e que gostaria que o deputadoGabriel Chalita (PMDB) estivesse na disputa.

“Muitas vezes, uma hora a mais por dia ou dez dias a mais por ano podem significar reprovar ou não uma criança. Podemos salvar o ano daquela criança e mantê-la na idade correta [na escola]”, afirmou.

Ampliação


O governo estuda ampliar o tempo que o aluno passa na escola, ou com mais horas por dia, ou com mais dias por ano. Uma pesquisa, feita pelo secretário-executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros –e apresentada pelo MEC (Ministério da Educação) na semana passada– defende que um aumento de dez dias no ano letivo pode elevar o aprendizado do estudante em até 44% em um período de um ano.

A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), no entanto, já mostrou em pesquisa que o aumento da jornada não necessariamente se reflete no aprendizado das crianças. No relatório “Education at a Glance”, divulgado no dia 13 de setembro, a instituição diz que o Brasil já oferece mais tempo de sala de aula (800 horas/ano) que a média dos países desenvolvidos (793 horas/ano).

O próprio ministro diz que não há estrutura para um aumento imediato da jornada. “Não há espaço físico para dois turnos, a não ser com tecnologias novas, como o próprio ministério desenvolveu. O que nós temos que discutir é como a gente vai aumentar o período de exposição da criança ao conhecimento.”

Desigualdade entre escolas públicas e particulares


Questionado sobre como fazer para diminuir a diferença de desempenho entre escolas públicas particulares, Haddad disse que “há muito” por fazer, mas que é preciso “reconhecer o esforço” do que já foi feito. “Estamos estimulando as escolas [públicas] a se compararem com elas próprias” por meio do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

A meta do governo é chegar à nota 6 no Ideb nos anos iniciais do ensino fundamental no ano de 2021, em uma escala que vai de zero a 10. Haddad negou que o objetivo seja baixo.

“No país mais evoluído, a nota é oito. Não existem países nota 10 nessa escala. Nós calibramos de tal maneira [que] chamamos de 6 a nota média dos países mais ricos do mundo. Se nós chegarmos [à meta] significa dizer que nosso sistema é melhor que o de Israel, da Itália.”

Enem


O ministro chamou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de “desafio”. “[É] Sempre um desafio e sempre será. Ele é muito grande. Só perde para o exame da China [o Gao Kao], que tem 11 ou 12 milhões de inscritos. É uma logística de escala monumental. Ele [o Enem] está se cercando do que há de melhor na inteligência do país: Correios, Inmetro, gerenciamento de risco”, disse.

Segundo Haddad, a greve dos Correios não vai atrasar a distribuição dos cartões de inscrição e, tampouco, das provas. “É uma operação especial e [o cartão] é acessível pela internet, com a senha de inscrição. [O candidato] Vai poder acessar independentemente de receber ou não.” Na terça-feira (27), os Correios anunciaram que iriam começar a entrega dos cartões ainda nesta semana.

Ensino superior na Ciência e Tecnologia


Tramita no Senado um projeto de lei que tira do MEC a responsabilidade da gestão do ensino superior, transferindo-o para o Ministério de Ciência e Tecnologia. Haddad criticou a ideia.

“É uma medida cosmética. Não vejo como uma mudança estrutural de fundo, até porque orçamento das universidades foi triplicado no último período. Nunca foi tão boa a relação do MEC com os reitores”, disse.

Resenha do Guia Politicamente Incorreto da América Latina


Maria Ligia Coelho Prado*

O principal objetivo deste Guia, nas palavras dos autores, é derrubar do pedestal o que chamam de “falsos heróis latino-americanos”. São “falsos” porque deles se construíram injustas imagens laudatórias. O livro quer mostrar a “outra” face desses homens, indicando seus equívocos, fraquezas e incapacidades. Cada capítulo está dedicado a uma das personagens que será objeto de críticas, de Simón Bolívar a Che Guevara.


Sem dúvida, a decisão dos autores de centrar o texto nas figuras dos “heróis” ou dos assim denominados “grandes homens” é bastante decepcionante. A desmistificação de heróis – “falsos” ou não, latino-americanos ou europeus – foi tarefa já exaustivamente cumprida pelos historiadores. Para que o passado histórico seja compreendido, é indispensável que se faça uma cuidadosa análise dos pensamentos e ações de homens e mulheres envolvidos na complexa trama de questões sociais, políticas, culturais, religiosas e econômicas.


Para construir seus argumentos e ordenar sua narrativa, Narloch e Teixeira se apóiam em muitas citações retiradas da bibliografia e indicam suas fontes em notas de rodapé, conferindo ao livro um pretenso ar de respeitabilidade acadêmica.


Todos os capítulos trazem afirmações polêmicas, simplificações oportunas e interpretações discutíveis que mereceriam ser esquadrinhadas. Repetem a equivocada estratégia de pinçar frases a esmo, retirando-as do contexto histórico, atribuindo-lhes valores positivos ou negativos sem as devidas explicações e restringindo, portanto, sua compreensão. Diante de tantas possibilidades para o exercício da crítica, escolhemos analisar dois procedimentos utilizados pelos autores para sustentarem seus pontos de vista.


O primeiro deles é o de se apropriar de uma fonte bibliográfica contestada e corroída por suspeitas e apresentá-la ao leitor brasileiro como fidedigna e isenta. O capítulo sobre Salvador Allende, que é particularmente controverso e recheado de afirmações refutáveis, exemplifica tal utilização imprópria. Narloch e Teixeira, no item 6 do capítulo, retiram informações do livro do chileno Víctor Farías, Allende, antissemitismo e eutanásia, para acusar o falecido presidente de racista e anti-semita e para associá-lo a certas práticas nazistas. Essas rotulações já foram fortemente denunciadas e refutadas no Chile, inclusive com a publicação de documentos que demonstram os equívocos de todas essas acusações.


Para a mais clara compreensão do manuseio das fontes pelos autores, vamos nos ater à questão do racismo e anti-semitismo. Sobre esse tema, Narloch e Teixeira reproduzem trechos retirados do livro de Farías, que supostamente teriam sido transcritos da tese Higiene mental e delinqüência, que Allende escreveu para obter o título de médico em 1933. As frases atribuídas a Allende estão carregadas dos piores preconceitos sobre judeus, ciganos, árabes, italianos, homossexuais e alcoólatras. Entretanto, a Fundação Presidente Allende, da Espanha, para refutar as diatribes de Farías, publicou a tese original de Allende, que também está disponível na internet. O que se constata é que Allende estava, no trecho mencionado, reproduzindo frases de Lombroso – ele afirma isso literalmente - numa disc ussão sobre suas teorias, como ainda era usual no começo dos anos 1930. A conclusão de Allende sobre as possíveis relações, defendidas por Lombroso, entre origem étnica e delito criminoso, é a de que não havia dados precisos para demonstrar tal influência “no mundo civilizado”. (p.115 da tese) Frase esta que não aparece na transcrição de Farías e do Guia. Como se sabe, o bom historiador e o bom jornalista devem checar suas fontes, estudá-las, compará-las, garantir sua credibilidade e depois transcrevê-las com correta isenção.


O segundo procedimento refere-se ao mecanismo de utilização de uma fonte bibliográfica de prestígio para referendar ou legitimar conclusões bastante diferentes daquelas defendidas pelos autores do Guia. O capítulo sobre Pancho Villa, líder da Revolução Mexicana, é, neste sentido, exemplar. A intenção explícita de Narloch e Teixeira é demonstrar que Pancho Villa não era anti-americano e que não foi um Robin Hood latino-americano. (p.239) Para alcançar seu objetivo, os autores fazem referências a trabalhos de historiadores de onde retiram informações pontuais e dados específicos. Entre eles, um se sobressai, pois é citado em 27 das 47 notas de rodapé: Friedrich Katz, historiador da Revolução Mexicana, homem de convicções esquerdistas e autor de uma monumental biografia de Pancho Villa. Nela, Katz salienta o lug ar de Villa no movimento revolucionário e procura fugir das lendas e da construção do mito. A trajetória pessoal e política de Villa é analisada integrada ao contexto social do México. Assim, existe um fosso entre a abordagem e conclusões de Katz e aquelas encontradas no Guia. A voz de autoridade de Katz é utilizada apenas para conferir credibilidade aos argumentos do Guia.


Para terminar, uma observação de caráter geral. Os autores apresentam no Guia uma visão desdenhosa sobre a História da América Latina. Só se entende essa exacerbada desqualificação se ela for pensada como a outra face do real desconhecimento dos autores sobre o assunto.


*Maria Ligia Coelho Prado é Professora de História da América Latina da USP
 
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,lombroso-oculto-livro-sobre-falsos-herois-latino-americanos-usa-simplificacoes-oportunas-omissoes-e-interpretacoes-discutiveis-avalia-professora-,777219,0.htm

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Estudo do governo defende aumento do ano letivo


Haddad apresenta dados que mostram que dez dias a mais de aulas podem elevar rendimento nas escolas em 44%

BRASÍLIA. Aumentar o ano letivo em dez dias pode fazer melhorar o aprendizado em 44%, diz estudo divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC). O levantamento, que consistiu na análise de pesquisas nacionais e internacionais da última década, serviu de base à proposta do ministro Fernando Haddad de ampliar o tempo de permanência das crianças em sala de aula. Na semana passada, Haddad defendeu a extensão do ano letivo de 200 para 220 dias, ou o acréscimo de uma ou mais horas à jornada diária.

O levantamento lista medidas com impacto direto na melhoria do aprendizado. A qualidade dos professores é apontada como mais eficaz: alunos que têm aulas com os melhores docentes teriam rendimento 68% acima dos colegas atendidos pelos piores profissionais. Segundo o estudo, o aumento de dez dias de aula equivaleria, em termos de elevação da aprendizagem, à redução do número de alunos por turma.

Haddad voltou a defender o aumento do tempo de permanência dos estudantes em sala de aula como forma de reduzir a desigualdade na Educação. Na última semana, a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) expôs mais uma vez a distância que separa a rede pública da privada: oito em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média nacional.

- Um dos maiores problemas da Educação brasileira está na questão da desigualdade de aprendizado entre os alunos. Metade dos brasileiros tem já alto desempenho escolar. A outra metade fica defasada, em função de razões socioeconômicas ou da baixa exposição ao conhecimento na escola. Temos que nivelar por cima as condições de ensino no país - disse o ministro.

O levantamento foi coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros, que é secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Ele disse que o Brasil está entre os países que mais melhoraram o nível de aprendizagem na última década.

O problema é que a defasagem brasileira era tão grande que o país continua em má situação. No ritmo atual, segundo Paes de Barros, o Brasil chegará a 2021 com os estudantes atingindo o nível de conhecimento que os alunos chilenos detêm hoje. Por isso, enfatizou, o Brasil precisa acelerar a aprendizagem, ampliando investimentos e melhorando a gestão dos recursos.

- Em termos de custo, o aumento do ano letivo tem uma vantagem incrível: não precisa de mais espaço e usa os mesmos professores por mais tempo - disse Paes de Barros.

Haddad afirmou que espera concluir no fim do ano o debate com secretários estaduais e municipais de Educação sobre a melhor forma de aumentar a permanência dos alunos. Ele disse que é possível aproveitar um projeto de lei já aprovado no Senado, que amplia o ano letivo das atuais 800 para 960 horas.

- Hoje existem evidências fortes de que a carga horária anual é baixa no Brasil. Quatro horas por duzentos dias é um caminho que nenhum país está trilhando. Ou você tem mais horas por dia ou mais dias por ano, totalizando mais do que 800 horas - afirmou o ministro.

O que melhora a qualidade do ensino:

MESTRE: ter aulas com os melhores professores garante 68% a mais de aprendizado do que aprender com os piores professores. O estudo não esclarece quais critérios definiram os melhores e os piores docentes.

ANO LETIVO: 200 dias efetivos de aula garantem 44% a mais de aprendizado do que 190 dias, o equivalente a 6,6 pontos na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O impacto de 20 dias a mais, como propõe o MEC, não foi calculado.

TURMAS MENORES: turmas com 15 alunos garantem 44% a mais de aprendizado do que turmas com 22 alunos, o equivalente a 6,6 pontos na escala do Saeb.

EXPERIÊNCIA DO MESTRE: professores com 3 a 5 anos de experiência garantem 22% a mais de aprendizado do que docentes sem experiência, o equivalente a 3,3 pontos na escala do Saeb.

ANO LETIVO NO MUNDO:


Japão: 243 dias
Coreia do Sul: 220
Israel: 216
Luxemburgo: 216
Brasil: 200
Holanda: 200
Escócia: 200
Tailândia: 200
Hong Kong: 195
Reino Unido: 192
Hungria: 192
Suazilândia: 191
Finlândia: 190
Nova Zelândia: 190
Nigéria: 190
França: 180
Estados Unidos: 180

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A cor da pele ainda nos distancia


Relatório da ONU mostra que negros e pardos tiveram mais acesso a garantias constitucionais, como Educação e saúde, mas o país está longe de tratar todos os cidadãos de forma igualitária

Ter sido aluna de Escola pública não fazia de Joyce Vieira de Castro Marra, 26 anos, uma minoria representativa dentro da universidade.

O que mais tornava rara a presença da aluna de pedagogia na instituição federal que cursou era a cor da pele. Formada em 2008, quando 7,7% dos negros alcançavam o ensino superior no Brasil, a atual professora representa um avanço nas políticas de igualdade racial no país.

Isso porque 20 anos antes apenas 1,8% dos negros cursavam uma faculdade. Apesar do aumento no acesso à Educação, a disparidade em relação aos brancos ainda assusta.

Essa é uma das conclusões de um estudo apresentado ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Comissão de Legislação participativa da Câmara dos Deputados. Organizado em parceria com o Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas (Laeser) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Relatório das Desigualdades Raciais no Brasil 2009-2010 analisa como garantias constitucionais, como Educação, saúde e previdência social, têm chegado a negros e brancos no país.E alerta: a desigualdade no Brasil diminuiu, mas ainda continua grande.

“O país avançou muito na universalização do ensino, por exemplo, mas a Educação ainda chega de forma diferente para brancos, pardos e negros”, destaca a pesquisadora do Laeser Irene Rossetto. Ela usa dados para exemplificar a constatação.

Em 1988, ano em que a Constituição Federal foi aprovada, 20% das crianças com 6 anos não frequentavam aEscola. Essa taxa hoje é de apenas 6,4%. Analisando mais de perto o cenário, entretanto, é possível ver a diferença. Enquanto 4,8% das crianças brancas nessa faixa etária estão fora da Escola, 7,5% das crianças pretas e pardas encontram-se nessa situação.

Mesmo entre os que têm acesso ao ensino há disparidades. Quando considerada a taxa de adequação, se o estudante está na série indicada para a sua idade, os negros continuam atrás. De uma forma geral, entre os jovens com 15 a 17 anos que deveriam estar no ensino médio, a taxa é de 34%. Se consideramos apenas os brancos, fica em 26,2%. No caso dos pretos e pardos, 20,1%.

Irene Rossetto destaca que os problemas atingem todas as etnias, mas alcançam de forma mais acentuada os negros. “A qualidade desse ensino é diferente. Até a estrutura e a segurança das Escolas onde estudam (os negros) costumam ser inferiores”, analisa.

Segundo ela, é fundamental que sejam aplicadas políticas afirmativas para reduzir ainda mais as desigualdades. “É preciso levar em conta que os negros partem de posições iniciais muito diferentes devido à dívida histórica que carregam. É preciso ter políticas que garantam não apenas cotas de participação, mas uma mudança no olhar, para que passem a ser vistas as limitações específicas”, defende.

Estar na universidade propiciou que Joyce tivesse essa nova perspectiva. Para ela, ter cursado a universidade garantiu não apenas uma profissão, mas o reconhecimento de sua raça. “Antes, eu achava que era morena. Foi na faculdade que tive contato com a desmistificação da beleza padrão”, explica. Quanto a eventuais episódios de preconceito, a pedagoga não dramatiza.

“Não gosto dessa coisa de mania de perseguição que alguns têm. Nunca fui impedida de entrar em algum lugar ou coisa do tipo. Mas a gente sente a discriminação de uma forma mais sutil”, lembra. “Quando alguém perguntava onde eu estudava e eu dizia que era na Universidade de Brasília, as pessoas se assustavam e perguntavam como eu tinha conseguido.”

Segundo Rebeca Tavares, representante da ONU Mulher, o relatório é um primeiro passo para diagnosticar a situação do país, mas ela afirma que a caminhada ainda é grande. “Sem o diagnóstico, é impossível propor políticas públicas que possam resolver o problema. Mas é preciso ser mais incisivo para acabar com o preconceito, ainda forte, persistente e universal”, avalia.

Baseado na Magna Carta

Esta é a segunda edição do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil. Ele compila e analisa dados oficiais de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O novo número analisou como a Constituição de 1988 influenciou a evolução das desigualdades, já que, do ponto de vista social, ela é considerada progressista.

Um de seus princípios fundamentais é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Em queda

As disparidades raciais têm diminuído no Brasil, mas continuam grandes, segundo documento divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU)

Jovens entre 18 e 24 anos que frequentam a universidade

Em 1988
» 7,7% dos brancos
» 1,8% dos pretos e pardos

Em 2008
» 20,5% dos brancos
» 7,7% dos pretos e pardos

O aumento do acesso à universidade foi de 165,9% para brancos e de 321,6% para pretos e pardos

Jovens entre 15 e 17 anos matriculados no ensino médio

Em 1988
» 57,5% dos brancos
» 51,8% dos pretos e pardos

Em 2008
» 86,6% dos brancos
» 82,3% dos pretos e pardos

Jovens entre 15 e 17 anos que frequentam a série adequada para sua idade em 2008
» 34% dos brancos
» 20% dos pretos e pardos

Fonte: Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009 2010

Fonte: Correio Braziliense (DF)

Série exibe bons modelos de ensino


Canal Futura vai mostrar experiências de países bem colocados no Pisa

BRASÍLIA. Uma série do Canal Futura vai mostrar como funciona o sistema educacional em países que obtiveram boa colocação no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que qualifica o ensino pelo desempenho dos estudantes.

As experiências de Coreia do Sul, Canadá, Chile, Finlândia e da província de Xangai, na China, serão reveladas cada uma em um episódio de "Destino: Educação".

O canal também vai abordar a situação do Brasil - que, apesar de ter progredido nos últimos anos, amarga a 53ª posição na avaliação, que teve participação de 65 países. O programa foi lançado ontem em Brasília e vai ao ar em outubro.

O programa levou em conta o último ranking do Pisa, de 2009, para escolher os locais visitados. Cada um dos sete episódios será dedicado a um país, e o último será uma espécie de retomada da série, para discutir os pontos mais marcantes de cada experiência. A ideia não é transpor um modelo para o Brasil, mas trazer à tona modelos que possam servir de inspiração.

- Nenhum dos modelos que vimos pode ser aplicado aqui diretamente, mas há princípios inspiradores - diz a gerente do Canal Futura, Lúcia Araújo.

Ela cita como exemplo a filosofia do sistema finlandês, em que os melhores professores ficam responsáveis pelos alunos com pior desempenho.

- É a qualidade com igualdade. Ao contrário da Coreia do Sul, onde há competição a todo o custo - observa.

A série traz entrevistas com estudantes, educadores e gestores e vai à casa dos alunos mostrar a rotina de estudos e conversar com os pais.

Entre as questões abordadas estão o grau de preocupação dos governos com o ensino; a articulação entre as políticas macro e as práticas do dia a dia escolar; formas de valorizar o professor; e o papel da família naEducação.

O primeiro episódio é sobre Xangai, o primeiro lugar no Pisa mais recente. A série mostra alunos excelentes rodeados de pais exigentes e professores qualificados.

A dedicação ao ensino é tão alta que o governo baixou uma lei limitando as horas de estudo em casa. Em seguida, vem a Finlândia, onde o professor, para lecionar, precisa ter mestrado, no mínimo. O país incentiva a autonomia dos alunos - que, no ensino médio, podem escolher o que querem aprender.

O Chile, país mais bem colocado no Pisa entre os latino-americanos, aparece no terceiro episódio. Em seguida, o programa vai à Coreia do Sul para mostrar rotina escolar de oito horas e rigorosa disciplina em sala de aula - que, até bem pouco tempo, incluía castigos físicos.

O episódio sobre o Brasil revela que o país ainda está longe de um sistema satisfatório. O programa mostra os altos índices de repetência e evasão escolar, os baixos salários dos professores, a pouca formação dos profissionais e as poucas horas dos alunos na escola.

A série foi realizada em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e com consultorias da socióloga e educadora Maria Helena Guimarães de Castro, do Todos pela Educação e da Comunidade Educativa


Fonte: O Globo (RJ)

Educadores aprovam utilização de games em sala de aula


Ainda não está claro quais serão os impactos reais dos jogos eletrônicos no desenvolvimento de crianças, mas as iniciativas para combinar conteúdo pedagógico com games vêm se multiplicando nas escolas

Ainda não está claro quais serão os impactos reais dos jogos eletrônicos no desenvolvimento de crianças e adolescentes, mas as iniciativas para combinar conteúdo pedagógico com o universo dos games vêm se multiplicando nas escolas brasileiras, com apoio dos educadores.

O tema, que permanecia restrito aos profissionais do ensino, ganhou destaque nesta semana, quando o governo federal anunciou que estuda reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado sobre os jogos digitais, desde que eles tenham aplicação educacional.

Para Rosemeire da Silva, coordenadora do curso de espanhol do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, a junção entre Educação e games é uma das alternativas mais eficazes para resolver um dos principais dilemas contemporâneos no setor de Educação.

"Hoje, os alunos estão muito expostos à linguagem digital. Dessa forma, reunir esses elementos faz com que a gente se aproxime com mais facilidade do cotidiano dos estudantes", diz.

Na avaliação dos educadores ouvidos pelo Valor, mais do que reduzir essa lacuna, a associação com os recursos narrativos e gráficos dos jogos permite que os alunos ampliem o entendimento de conteúdos específicos e, ao mesmo tempo, desenvolvam aspectos como a colaboração e a interação com seus pares.

"Como lidam muito com desafios e superação de fases, os games acabam fazendo com que eles troquem informações e se ajudem", diz Kátia Aparecida de Castro, professora de ciências de ensino fundamental do Colégio Pueri Domus, de São Paulo.

No Rio, notas dos alunos de 410 escolas que usam jogos digitais são até 20% maiores que no restante da rede


Depois de adotar lousas digitais nas salas de aula em 2009 e distribuir netbooks e tablets aos alunos, o Pueri Domus identificou a necessidade de investir na oferta de games por meio do portal do colégio.

"A ideia era que eles não se limitassem às pesquisas na internet e que as aulas pudessem ter esse elemento lúdico", diz Kátia.

Vinicius Nobre, gerente de produtos da Cultura Inglesa, reforça outros fatores inerentes aos jogos digitais. "No nosso caso, eles permitem que o idioma seja um meio e não o objetivo final, ao contrário do que acontece nos métodos tradicionais. O estudante aprende sem perceber". A rede oferece mais de 100 jogos em seu portal.

O desenho dessas iniciativas não se restringe aos colégios particulares. No Rio de Janeiro, das 1.064 escolas da rede municipal, 410 contam com um programa pedagógico aliado a tecnologias e jogos digitais, batizado de Educopedia.

Nas séries iniciais do ensino fundamental o uso é interativo, com a mistura de animações e games que ajudam as crianças a fazer operações básicas de matemática, montar sílabas e até rimar.

Rafael Parente, da área de projetos estratégicos da Secretaria Municipal de Educação do Rio, conta que as notas das provas bimestrais das escolas que utilizam o Educopedia são, em média, de 10% a 20% superiores às do resto da rede.

"Devemos usar os jogos para a aprendizagem porque é a maneira mais fácil de ensinar, por reunir motivação e atrair o interesse da criança e do jovem para o aprendizado. Estamos fazendo forte campanha para convencer os professores mais resistentes para que o Educopedia seja totalmente difundido na rede", diz Parente.

O interesse das escolas começa a movimentar os fornecedores. Fred Vasconcelos, diretor-executivo da Joy Street, estúdio de desenvolvimento de games para Educação e treinamento, conta que a empresa foi formada há três anos, a partir de um projeto realizado para a Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco.

A companhia criou um portal de jogos com conteúdos temáticos que hoje é usado pelos alunos de 1,2 mil escolas da rede pública estadual. "Estamos expandindo nossos serviços e a projeção é crescer 80% em 2011", diz Vasconcelos.

Sergio Nesteriuk, professor do departamento de ciência da computação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), observa que já existe a vertente "serious games" na indústria de jogos eletrônicos. "Normalmente, os videogames estão associados à diversão, mas cada vez mais estão sendo usados para a Educação e o treinamento empresarial."

O especialista diz que os games podem ser úteis, mas recomenda alguns cuidados. O processo de criação deve ser acompanhado por educadores, e os jogos precisam ser atrativos porque são destinados a um público acostumado aos jogos comerciais.

"O game educacional não tem que competir com os blockbusters, mas se for muito chato, o tiro sairá pela culatra", afirma Nesteriuk.

O Colégio Bandeirantes seguiu essa regra ao criar um ambiente de jogos em seu portal para os alunos de espanhol. O projeto foi desenvolvido internamente pelo departamento de tecnologia e envolveu cinco pessoas, incluindo dois professores.

"Tivemos o cuidado de equilibrar os elementos para que os alunos pudessem aprender, mas de uma maneira prazerosa", diz Rosemeire, coordenadora do projeto.


Fonte: Valor Econômico (SP)

Aprender a aprender

Dom Pedro e Lula: um encontro... histórico

terça-feira, 13 de setembro de 2011

"Obras como ’1822′, de Laurentino Gomes, não educam, desinformam, mas encontram espaços nos meios de comunicação”, diz professora da USP


O livro 1822 desconsidera investigações e questionamentos que há mais de 30 anos vêm sendo desenvolvidos e divulgados por centenas de pesquisadores brasileiros e portugueses sobre o tema da Independência, dos quais resultaram não só profunda ampliação dos conhecimentos sobre a época como a superação de interpretações correntes.


Dedicado a “professores de História no seu trabalho anônimo de explicar as raízes de um país sem memória”, o livro banaliza a versão mais conservadora e simplificada das complexas circunstâncias nas quais foram delineadas a separação de Portugal e a fundação do Império do Brasil. O fio condutor da narrativa é, aparentemente, a vida de D. Pedro. Entretanto, para fazer uma “reportagem” e contar como o Brasil conseguiu “manter a integridade de seu território e se firmar como nação independente”, o autor se fundamentou em duas premissas: para ele, a Independência foi produto de “sorte, acaso, improvisação”, pois a desorganização interna era tamanha que só um “milagre” faria “dar certo” um país “que tinha tudo para dar errado”; desta forma, as decisões cruciais só poderiam ser tomadas por estrangeiros e portugueses -uma princesa austríaca, um militar mercenário inglês, D. Pedro, os deputados das Cortes em Lisboa e um “homem sábio”, José Bonifácio, inspirado pelos padrões europeus. Como o próprio autor afirma, o livro é um “mosaico” de personagens e episódios, mas não está livre de equívocos: na cronologia, por exemplo, 12 de outubro de 1823 aparece como data do fechamento da Assembleia Constituinte pelo imperador, quando o correto é I2 de novembro.


Os capítulos não formam propositadamente uma sequência, havendo idas e vindas no tempo e no espaço, e, além disso, a composição do texto pressupõe que a História seja um grande depósito de dados, que o observador arrebanha como quer, e com eles monta um tabuleiro manipulando fragmentos e dando-Ihes a fisionomia que considerar mais adequada ou palatável. A “técnica jornalística” que o autor diz adotar, contudo, não o inocenta do partido que tomou. O enredo apresentado – desmentido por obras que ele mesmo cita e pela literatura atualmente disponível -sugere que o voluntarismo de indivíduos comanda a História, que a sociedade brasileira, tanto no passado quanto no presente, é incapaz de se autogovernar, e que ainda estão por nascer o povo e a nação brasileiros. Edições como esta disparam, sobretudo, um alerta: não educam, desinformam, são conformistas e encontram espaço nos meios de comunicação.


CECÍLIA HELENA DE SALLES OLIVEIRA É DIRETORA DO MUSEU PAULISTA E PROFESSORA DA USP.


Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 6, n° 62, novembro de 2010. p. 92.

O espetáculo do Ipiranga: reflexões preliminares sobre o imaginário da Independência

Por  Cecilia Helena de Salles Oliveira - Museu PaulistalUSP

Clique aqui

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um museu para entender a evolução da Terra

Por Vinicius Zepeda

Cerca de 20 mil rochas, minerais e fósseis compõem o acervo

Um cenário interativo simula a abertura da crosta terrestre tal como se estivéssemos vivenciando um terremoto. É o destaque da exposição Memórias da Terra, principal atração do Museu da Geodiversidade, espaço voltado para a divulgação do conceito que designa de que maneira a diversidade de rochas, solos e substratos terrestres influencia o desenvolvimento da vida em nosso planeta. Localizado no campus da UFRJ, no Fundão, é o primeiro museu sobre esse tema no mundo. Inaugurado em dezembro de 2008, o espaço ficou fechado cerca de dois anos para reformas e obras de melhoria de infraestrutura e será reinaugurado no próximo dia 14 de setembro. A reformulação do museu e a exposição contaram com apoio da FAPERJ através de três projetos apoiados pelo edital Difusão e Popularização da Ciência no Estado do Rio de Janeiro.

Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, pesquisador da UFRJ e um dos principais idealizadores do museu, o paleontólogo Ismar de Souza Carvalho fala sobre algumas das peças presentes na exposição. Ele destaca um estromatólito – conjunto de estruturas fossilizadas produzidas por algas verdes e azuis (cianobactérias) – com mais de uma tonelada. "Estas bactérias são responsáveis pelo aumento expressivo do oxigênio na atmosfera terrestre, o que possibilitou a explosão da vida no planeta", explica o paleontólogo. Também estarão expostas diversas informações sobre a origem de rochas e minerais. "Dentre elas, teremos um geodo de ametista, com peso de 2,5 toneladas, incrustado com cristais de mais de cinco centímetros", acrescenta.

A montagem de esqueletos completos, ou mesmo partes, de dinossauros e outros animais pré-históricos que habitaram a Terra há milhões de anos também farão parte da exposição. "Será a primeira vez que apresentaremos uma reconstituição completa do dinossauro gigante Amazonsaurus maranhensis, descrito originalmente em 2004", destaca Ismar Carvalho. Primeiro dinossauro descoberto na região da Amazônia, ele tinha hábitos herbívoros, doze metros de largura por aproximadamente quatro metros de altura, a mesma de um elefante africano", explica. Ele ainda chama a atenção para a reconstituição do crânio do crocodilo gigante Purussaurus brasilienses. "Encontrado no estado do Acre, região da Amazônia, ele chegava a ter 18 metros de comprimento e é até hoje o maior crocodilo já encontrado na Terra", complementa.

Outro ponto alto do Museu da Geodiversidade é a reconstituição do ambiente terrestre em sua origem, com destaque para o meteorito Uruaçu, composto principalmente de níquel e ferro, encontrado numa fazenda no interior de Goiânia e ainda pouco estudado por pesquisadores brasileiros. "Acredita-se que os meteoritos sejam restos de planetas que existiram no início da formação do sistema solar e se desprenderam no espaço. O registro desses materiais e seu estudo servem para contar um pouco do início da formação da Terra", acrescenta o coordenador dos Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFRJ, Emílio Velloso Barroso.

Numa parceria com a Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, alguns materiais geológicos foram resgatados em seu valor artístico. Trata-se da reconstrução de um dos portais, em tamanho real, da antiga Igreja dos Jesuítas, localizada anteriormente no Morro do Castelo, no centro do Rio, demolida durante as reformas urbanas do prefeito Pereira Passos", conta Emílio Barroso. "Esse trabalho é bastante relevante não apenas por resgatar um pouco da história de nossa cidade, mas também porque a igreja foi toda construída com calcário de lioz, material rico em registros geológicos e muito usado em antigos monumentos de Portugal, como o Mosteiro dos Jerônimos", acrescenta.

"Também teremos fósseis de animais que habitaram, há 350 milhões de anos, o interior dos estados do Paraná, Mato Grosso e Amazonas", afirma Ismar Carvalho. O espaço para exposições do museu tem pouco mais de 750 m² e é composto de recepção, corredor de atividades internas e exposições temporárias, além de loja, sala para exposições de longa duração ou permanentes e uma praça coberta. "Ali está abrigada a terceira maior coleção de fósseis do país, catalogada pelo sistema Paleo do Serviço Geológico do Brasil, com 20 mil exemplares de rochas, minerais e fósseis – só estes são 15 mil, com acervo disponível na internet", complementa.

Ismar Carvalho ainda destaca o aspecto educativo e as atividades voltadas para a divulgação das ciências com pesquisadores ligados ao museu. "Teremos um espaço para a exibição de filmes em três dimensões para o público", explica. Uma parceria com o programa Jovens Talentos da FAPERJ oferecerá bolsas de pré-iniciação científica para estudantes de ensino fundamental e moradores de comunidades do entorno da UFRJ atuarem como monitores em visitas guiadas ao espaço. "Desta forma, esperamos não somente difundir as atividades do museu para a população leiga, como tornar o espaço uma nova opção de lazer e educação científica para as populações do entorno da universidade", conclui.

O museu fica no campus Ilha do Fundão, da UFRJ (Avenida Athos Silveira, 274), no térreo do prédio do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN). A região fica próxima às principais vias de acesso ao centro do Rio (Avenida Brasil, Linha Vermelha e Amarela). O local estará aberto para visitação pública e gratuita de segunda a sexta, das 9h às 17h.


Fonte: FAPERJ (http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=7507)


Livro resgata o papel das revistas ilustradas no Segundo Reinado

Por Débora Motta


Obra mostra a importância das revistas ilustradas no séc. XIX


As revistas ilustradas que circulavam no Brasil durante o Segundo Reinado (1840-1889) desempenharam um papel especial na história da imprensa brasileira. Numa época em que o acesso à fotografia era restrito e em que a sociedade se apoiava na leitura das letras, as revistas ilustradas foram responsáveis, em grande medida, pela circulação das primeiras imagens na imprensa brasileira, na forma de ilustrações. Esse tema é discutido no livro Revistas ilustradas – modos de ler e ver no Segundo Reinado (editora Mauad), organizado pelos pesquisadores Paulo Knauss, Marize Malta, Cláudia de Oliveira e Mônica Pimenta Velloso, e publicado com apoio do programa de Auxílio à Editoração – APQ3, da FAPERJ.

“É um livro que trata ao mesmo tempo da história da imprensa e da história da imagem no País, valorizando a cultura letrada e a cultura visual do Segundo Reinado”, resume Paulo Knauss, diretor do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro e professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Ao longo de três capítulos – “As revistas ilustradas no mundo dos impressos”, “As revistas ilustradas e seus temas” e “No tempo das revistas ilustradas” –, o livro reúne 11 estudos de diferentes autores que abordam, com perspectivas diversas, a imprensa e o mundo social oitocentista. “Os artigos destacam como o imaginário social brasileiro da época tem como referência a relação entre texto escrito e imagem que se estabeleceu na imprensa ilustrada”, diz Knauss.

De acordo com o historiador, a obra veio preencher uma lacuna bibliográfica sobre o tema. “A ideia de fazer um livro sobre o assunto surgiu da necessidade de se criar um material para atender as atividades acadêmicas de pesquisa sobre as revistas ilustradas da segunda metade do século XIX, que era escassa. Normalmente, a bibliografia sobre o século XIX valoriza muito a imprensa panfletária do Primeiro Reinado, que não é nosso objeto de estudo”, conta Knauss. Para ele, as revistas ilustradas contribuíram para formar no público leitor a cultura visual. “Hoje, associamos sempre a ideia de fotografia e notícia, mas antes da fotografia, a gravura já circulava nas revistas ilustradas. A introdução desse tipo de imagem, a maioria em preto e branco, renovou a imprensa escrita”, explica o autor do prefácio da coletânea.

Diversidade de temas

Com reportagens sobre variedades e atualidades, ilustrações de moda e sátiras políticas, representadas pelas caricaturas, as revistas ilustradas abordavam temas diversos. “Essas revistas eram, muitas vezes, produzidas no Rio de Janeiro, a sede do Império, e distribuídas para outras províncias, onde eram balizadoras da moda, do comportamento e fonte de notícias da época”, explica a organizadora do livro Marize Malta, professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre as revistas ilustradas que circulavam na época do Segundo Reinado estavam o Museu Universal – Jornal das Familias Brazileiras, Minerva Brasiliense, Ostensor Brasileiro, A Estação e O Jornal das Senhoras. Elas apresentavam a informação visual por meio de estampas encartadas e/ou ilustrações impressas na própria página, junto ao texto, por clichê ou processos litográficos.

Em um dos artigos do livro, intitulado “Fundo, detalhe e satisfação visual: decoração doméstica em A Estação”, a professora Marize Malta apresenta um estudo de caso de A Estação – Jornal Illustrado para a Família. A revista se propunha a mostrar, especialmente ao público feminino, as últimas tendências europeias da decoração de interiores e atendia aos anseios da “boa sociedade carioca”, interessada na escolha de mobília e decoração como símbolo de status social. Contudo, abordava também temas como moda, comportamento e literatura. “A Estação colocava as senhoras a par das modas parisienses, trazendo inclusive os moldes dos vestidos franceses”, conta.

A revista quinzenal A Estação, assim como outras da época, refletia a forte influência francesa nos costumes da época. Era uma versão brasileira da parisiense La Saison. “Os editores compravam os clichês, ou seja, as ilustrações de moda e decoração, da revista francesa e traduziam os textos para o português, mas a parte literária e de colunismo social da revista era escrita por brasileiros.” De acordo com a professora, um dos escritores brasileiros que se destacaram na publicação foi o imortal Machado de Assis, autor de folhetins – capítulos romanescos publicados periodicamente nas revistas ilustradas, que foram os ancestrais das atuais novelas.

Retratos de uma época, as revistas ilustradas tiveram o mérito de colocar as imagens não apenas como fonte de informação complementar ao texto, mas muitas vezes como a principal fonte de informação, além da palavra. “A imagem era tão importante quanto o texto nas revistas ilustradas. Elas construíam o conhecimento”, destaca Marize Malta. Por esse motivo, as imagens são destaque na edição do livro Revistas ilustradas – modos de ler e ver no Segundo Reinado, ricamente ilustrado com os periódicos em análise. “O apoio da FAPERJ foi importante para poder publicar as imagens dessas revistas, discutidas na obra com uma edição de qualidade, toda em papel couché”, conclui.

Fonte: Faperj

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Pobreza emburrece?" - por Gilberto Dimenstein

PARA QUEM estuda o cérebro, a resposta da pergunta que está no título é sim: a pobreza emburrece.

Apenas metade da inteligência de um indivíduo pode ser explicada pela herança genética, segundo estudo divulgado neste mês pela Universidade de Edimburgo, que envolveu cientistas de diversos países. O restante da composição do QI vem do ambiente em que se vive e dos estímulos educacionais recebidos desde o berço. Simplificando: um Einstein nascido na miséria, sem apoio para aprender, até seria inteligente, mas dificilmente um gênio. Alguém com potencial de ter uma alta inteligência torna-se apenas mediano. É como se um músculo deixasse de ser desenvolvido.

Chegou-se a essa conclusão depois de testes laboratoriais com 3.118 pessoas espalhadas pelo mundo. Imaginava-se que as forças externas seriam bem menores na formação do QI. Tradução: inteligência é uma habilidade que, em boa parte, se aprende, depende da família e das oportunidades na cidade.

É um ângulo interessante para ver a parceria, anunciada na quinta-feira, entre a presidente Dilma Rousseff e os governadores da região Sudeste de unificação de seus programas de complementação de renda para combater a pobreza, batizado de Brasil sem Miséria.


Menos miséria acarreta mais inteligência?

A pesquisa dos neurocientistas ajudou-me a ver por outro ângulo um dos projetos mais emocionantes que conheço (Ismart) no Brasil: jovens de baixa renda, a maioria deles vindos de comunidades pobres, são escolhidos e preparados para estudar em escolas de elite.


Quase todos eles costumam entusiasmar seus professores porque, apesar da adversidade extrema (muitos passam parte do dia no trajeto de ônibus até a escola), conseguem recuperar a cada ano o tempo perdido. Logo estão no mesmo nível de aprendizagem de seus colegas mais abastados e até os superam, entrando nas melhores faculdades.

Conheci vários desses jovens e tendia a atribuir sua performance à garra, a uma inteligência acima do normal, tudo isso, é claro, favorecido por escolas de qualidade.

O que impressiona a todos é a rapidez da evolução. O que aquela pesquisa da Universidade de Edimburgo traz é a suspeita de que, com tantos estímulos, desafios e apoio, a taxa de QI possa ter sofrido um upgrade -afinal, nessa fase o cérebro ainda está em formação.


É, por enquanto, apenas uma especulação.

O que não é uma especulação é o caminho inverso, mostrando a relação entre pobreza e aprendizagem. Com apoio do Unicef, o Cenpec analisou, desde o ano passado, 61 escolas de de São Miguel Paulista, região da periferia da cidade de São Paulo. Já sabemos que, em geral, quanto mais pobre um bairro, pior tende a ser a nota dos alunos.

Mas essa investigação foi mais longe. Analisou as escolas de uma mesma região, comparando alunos com semelhante posição socioeconômica. Detectou-se uma expressiva diferença segundo as peculiaridades de cada território, especialmente a oferta de serviços públicos em cada um deles.

Nos lugares com menos serviços públicos, as demandas sociais tendem a sobrecarregar mais as escolas e, com isso, afastam ainda mais os professores e as famílias que têm maior repertório cultural. Nesses locais, há menos oferta de creche e pré-escola, retardando o processo de aprendizagem.

Esses programas da renda mínima unificados (acertadamente) por Dilma e os governadores têm como contrapartida a permanência dos alunos nas escolas. Mas a subida da renda, a julgar pelas descobertas da pesquisa do Cenpec, será limitada à aprendizagem dos alunos se não houver um investimento e articulação nos territórios.

Nem será justo que se avaliem essas escolas com padrões semelhantes aos das demais, já que os professores, mesmo os mais capacitados, terão uma margem de manobra limitada.

Programas como o Bolsa Família são um bom exemplo de política para a redução da miséria. E, por isso, têm um efeito eleitoral, mas terão um baixo impacto educacional caso não se perceba o território como uma extensão da sala de aula.

Não pensar na educação como uma linha que passa pela família, pela escola e pela comunidade é falta de inteligência pública.

PS- Por falar em políticas públicas e territórios, será lançado no começo de setembro um aplicativo para celular por meio do qual as pessoas poderão, em tempo real, relatar suas impressões sobre a cidade. Gera-se, no final, um mapa das percepções de toda a cidade e seus problemas rua por rua. Desenvolvido pelo Movimento Mais Feliz, comandado pelo publicitário Mauro Montorin, o projeto deve ser encampado pelo Facebook para ter amplitude internacional.

Folha de S.Paulo - Edição de 21/08/2011