sexta-feira, 27 de maio de 2011

Estudo investiga a vida nos cárceres secretos da Inquisição portuguesa

Ao longo da história, muitos embates foram travados em nome da fé. As perseguições promovidas pela Inquisição portuguesa são um desses capítulos turbulentos. Um estudo da Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, Daniela Buono Calainho, historiadora e professora da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), analisa aspectos pouco conhecidos do cotidiano dos prisioneiros nos cárceres do Tribunal do Santo Ofício português, entre os séculos XVII e meados do XVIII. Este período é considerado o ápice das perseguições inquisitoriais em Portugal e no resto do Império português, inclusive no Brasil, à época ainda colônia.

Nessa época, o Tribunal da Inquisição em Portugal tinha sede em três cidades: Lisboa, Évora e Coimbra. “Todos os processos dos réus oriundos do Brasil eram remetidos para o tribunal lisboeta, o maior deles”, explica a professora, lembrando que a primeira visita da Inquisição ao Brasil ocorreu em 1591, na Bahia. Para repreender as heresias – transgressões aos dogmas da Igreja católica –, instituiu-se na colônia uma figura permanente a serviço da Inquisição: a do familiar. Considerado um cargo de grande prestígio da Inquisição, o familiar era responsável por recolher denúncias sobre os “hereges”, prender os suspeitos e acompanhar os presos nos autos de fé, ocasião em que se lia publicamente as sentenças dos réus, para então queimar aqueles que eram considerados "relaxados ao braço secular".

Uma das maiores heresias aos olhos da Inquisição, que atuou no contexto da Contra-Reforma – movimento criado para fortalecer a fé católica em resposta ao avanço do protestantismo –, era a prática do judaísmo pelos cristãos-novos. "Os hereges mais perseguidos pela Inquisição foram os cristãos-novos, ou seja, os judeus que, convertidos ao cristianismo, eram suspeitos de continuar crendo e praticando sua religião original", explica Daniela Calainho. Entre outros "hereges" perseguidos frequentemente estavam os bígamos, que em alguns casos deixavam as mulheres em Portugal e se casavam pela segunda vez, ao chegar a um novo lugar do Império português; os sodomitas, isto é, os homossexuais; os feiticeiros, ou indivíduos que se dedicavam ao exercício da magia; os blasfemadores, aqueles que desacatavam os dogmas católicos pela palavra; os mouriscos, muçulmanos convertidos ao cristianismo que insistiam em professar a antiga fé; e os protestantes.

Condições degradantes nos cárceres de Lisboa

O estudo da historiadora Daniela Calainho tem como enfoque os bastidores dos cárceres da Inquisição de Lisboa, localizados no mesmo prédio do Tribunal do Santo Ofício da capital. Em um minucioso levantamento de dados, realizado ao longo de algumas viagens à capital lusitana, desde 2009, a pesquisadora investigou detalhes como de que maneira os réus se comunicavam e como eram as reais condições de vida dos prisioneiros. “Analisamos aspectos como os níveis de comunicabilidade e de sociabilidade possíveis dentro do espaço do cárcere, além do grau de comprometimento físico e emocional dos presos condenados a diversas penas inquisitoriais”, resume.

De acordo com a historiadora, 95% das informações que serviram como base para a pesquisa foram encontradas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. Entre os documentos, destacam-se os Regimentos inquisitoriais de 1613, 1640 e 1774, que forneceram pistas sobre como o Santo Ofício organizava seu sistema prisional, os funcionários envolvidos e as relações do tribunal com os presos; os Livros do alcaide dos cárceres, contendo dados pessoais dos presos, locais específicos onde estavam, pedidos variados, petições e ocorrências; os Processos dos diferentes delitos do foro inquisitorial, para descrever o cotidiano dos cárceres, as condições físicas dos detentos e suas relações com o poder inquisitorial; e as Visitas de inspeção ao Tribunal de Lisboa em 1643, 1649 e 1658, ocasião em que se averiguava a conduta moral e ética dos funcionários e sua relação com os presos, além das condições dos cárceres e dos prédios onde funcionava o tribunal.

Para além da complexa burocracia que regia os procedimentos da Inquisição, os documentos revelam as condições de vida nada favoráveis dos calabouços. Lúgubres, insalubres, de higiene precária, escuros e com muitos presos em cada cela. Os réus eram presos enquanto ainda aguardavam o julgamento dos processos, que geralmente transcorriam durante anos a fio, em segredo, obrigando-os a aguardar a decisão final dos inquisidores em meio a inúmeras sessões de inquirições e tortura. “Dificilmente alguém era absolvido. Depois de longos anos de prisão, eles geralmente eram condenados a várias penas, entre elas o degredo ou a temida fogueira”, afirma a pesquisadora.

Aliás, a ideia do segredo dos processos era muito cara ao funcionamento da Inquisição ibérica. “Os próprios calabouços da Inquisição eram chamados de ‘cárceres do secreto’”, explica Daniela Calainho. Ela conta que os prisioneiros não podiam receber visitas nem contar nada do que se passava lá dentro. Além disso, mesmo sem saber o porquê, eram presos e obrigados a confessar o motivo pelo qual imaginavam ter sido presos. “O ato de confessar as heresias era valorizado”, completa a historiadora, acrescentando que outra questão comum que afetava a sociabilidade dos réus nos calabouços eram as denúncias entre os próprios colegas de cela, devido a questões como a prática do judaísmo.

A atuação dos médicos e dos barbeiros nos “cárceres do secreto” também foi considerada pela pesquisadora. Estes profissionais eram responsáveis pelo cuidado dos réus e por atestados deliberativos de comutação das penas, isto é, pela substituição de uma sanção por outra menos grave. “Médicos e barbeiros deliberavam sobre as condições dos réus e se responsabilizavam sobre sua integridade física, de modo que cumprissem suas penas e saíssem de lá vivos. Sua presença também era imprescindível nas sessões de tormento, para avaliar a capacidade dos réus de suportá-las”, diz a historiadora.

Daniela Buono Calainho é autora de dois livros sobre a Inquisição: Agentes da fé: Familiares da Inquisição portuguesa no Brasil colonial, de 2006, da editora Edusc, de São Paulo; e Metrópole das mandingas: Religiosidade africana e Inquisição portuguesa no antigo regime, lançado pela editora Garamond, em 2008, com apoio do Programa de Auxílio à Editoração (APQ3), da FAPERJ. Para ela, estudar a vida nos “cárceres do secreto” pode ajudar a esclarecer uma parte ainda obscura da história. “O estudo dos cárceres inquisitoriais pode nos levar à compreensão da construção da autoridade e dominação da Inquisição sobre a própria sociedade, por meio da pedagogia do medo”, conclui.




© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.
http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=7233

sexta-feira, 20 de maio de 2011

AVISO IMPORTANTE: CONFIRMADA AULA DE REPOSIÇÃO CSO 589

A aula de reposição da disciplina CSO 589 (BRASIL II), turma 340, está confirmada para 21 de maio, de 9h às 11h30, na sala 1103, da unidade Candelária.

AVISO IMPORTANTE

Conforme o Ato Normativo PR 354, de 18 de maio de 2011, não haverá expediente exclusivamente no Campus Piedade no dia 23 de maio (segunda feira), nos turnos da tarde e noite, por conta da realização do show de Paul McCartney, no Estádio João Havelange - "Engenhão".

terça-feira, 17 de maio de 2011

Seminário Internacional História do Tempo Presente

O Programa de Pós-Graduação em História da UDESC informa:

Continuam abertas as inscrições para proponentes de trabalhos a serem apresentados no I SEMINÁRIO INTERNACIONAL HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.

O evento ocorrerá entre 07 e 09 de Novembro de 2011, na UDESC, em Florianópolis (SC).

Cronograma básico:
Envio de propostas de comunicações - 15 de abril a 15 de junho de 2011
Divulgação das propostas de comunicações aceitas em primeira chamada - 01 de julho de 2011
Pagamento da taxa de inscrição em primeira chamada - 15 de Julho a 30 de Agosto de 2011
Envio dos textos completos - 15 de Julho a 01 de Setembro de 2011

O pagamento para inscrever trabalhos nos Simpósios Temáticos ocorrerá após a aprovação dos mesmos pelos/as coordenadores/as.

R$ 50,00 sócios ANPUH
R$ 75,00 não sócios ANPUH
(isenção do pagamento para professores de educação básica da rede pública de Santa Catarina).

Informações em www.seminariotempopresente.faed.udesc.br
Contato: seminariohtp@gmail.com

Lançamento da Revista História & Luta de Classes 11 - Dossiê VIOLÊNCIA E CRIMINALIZAÇÃO

Divulgamos o lançamento do número 11 da Revista História & Luta de Classes, com o dossiê CRIMINALIZAÇÃO E VIOLÊNCIA. Segue abaixo o sumário da revista e, em anexo, a Apresentação do número.
A revista é produzida por um coletivo de associados e pode ser adquirida diretamente com seus integrantes ou através do endereço eletrônico historiaelutadeclas, mediante depósito bancário no valor de R$ 15,00 por exemplar (acrescido de R$ 5,00 para postagem nacional, independentemente do número de exemplares). Para informações sobre dados da conta, favor escrever ao endereço eletrônico acima indicado.ses@uol.com.br
 
 
DOSSIÊ VIOLÊNCIA E CRIMINALIZAÇÃO

Fabricando o consenso e sustentando a coerção: Estado e favelas no Rio de Janeiro contemporâneo
Marcelo Badaró e Romulo Mattos

A Violência no Rio de Janeiro: perdas e possibilidades
Gelsom Rozentino de Almeida

Projetos sociais para jovens moradores de favelas: criminalização e violência
Lia de Mattos Rocha

Sob o leito de procusto: judiciário e a criminalização da miséria
Fernanda Vieira

O presente e o passado na história da criminalização dos movimentos sociais dos trabalhadores rurais de Fernandópolis: o “Levante de 1949"
Vagner José Moreira

Estado de Segurança Nacional e oposição armada: Brasil em tempos de trevas
Dulce Portilho Maciel

Os Estados Unidos e o Fomento ao Mercenarísmo (2001-2009)
Alexandre Arienti Ramos

TRADUÇÃO

A Mirada Neozapatista: Olhar (para e desde) baixo e à esquerda
Carlos Antonio Aguirre Rojas(autor)
Trad: Caio Graco Cobério

ARTIGOS

Aspectos da relação do PCB com a Internacional Comunista há 90 anos de sua fundação
Carlos Zacarias de Sena Júnior

Sonho Diurno e Utopia no Princípio Esperança de Ernst Bloch
Silvia Sônia Simões

A teoria marxista da História e as sociedades pré-capitalistas
Vicente Gil da Silva

Por uma crítica da razão histórica: o capítulo das bifurcações na concepção da história em Daniel Bensaïd
Denni Irineu Alfaro Rubbo

RESENHA

O papel do Estado e a crise neoliberal
Rafael Carucci